Era uma figura muito magra, muito esguia, muito encurvada, de pescoço muito alto, cabeça pequena, que se mostrava inteiramente desenhada a preto intenso e amarelo desmaiado.
Cobria-a uma sobrecasaca justa e preta, abotoada até à barba, uma gravata preta, umas calças pretas. Tinha as faces lívidas e magríssimas, o cabelo corredio muito preto, do qual se destacava uma madeixa irregular, ondulante, na testa pálida que parecia estreita, sobre os olhos cobertos por lunetas fumadas, de aros muito grossos e muito negros. Um bigode farto, e também muito preto, caía aos lados da boca grande e entreaberta onde brilhavam dentes brancos. As mãos longas, de dedos finíssimos e cor de marfim velho, na extremidade de dois magros e longuíssimos braços, faziam gestos desusados com uma badine** muito delgada e um chapéu de copa alta e cónica, mas de feltro baço, como os chapéus do século XVI.
Era o Eça de Queirós.
Jaime Batalha Reis, Prosas Bárbaras
** badine - substantivo feminino
1 bengala leve e flexível, frequentemente trabalhada, usada no passado por homens elegantes
2 haste delgada e flexível que faz de chicote
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