Maria da Lua… o nome ficava-lhe bem. Não era igual às outras crianças, era, como dizia a mãe, pior e melhor. Gostava de ir ao sótão, às escuras, para sentir na pele o arrepio do medo; subia às árvores mais altas e atirava-se de lá de cima, às cegas, «para aprender a voar»; não mentia nunca para se desculpar, para evitar um castigo, mas gostava de acrescentar à verdade aquele pó de fantasia que é o sal da vida; não chorava ruidosamente como as crianças, chorava em silêncio, com um grande espanto nos olhos, como se acabasse de descobrir, naquele instante, toda a maldade, toda a injustiça do mundo. Não, não era igual às outras crianças…
Fernanda de Castro
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