segunda-feira, 11 de maio de 2009

Inglaterra, na companhia de sua mulher, Maria Eduarda Runa




Afonso da Maia estudou literatura inglesa; interessou-se pela cultura, por cavalos, pela prática da caridade; - e pensava com prazer em ficar ali para sempre naquela paz e naquela ordem.
Mas Afonso percebia que sua mulher não era feliz. Estava quase sempre pensativa e triste, tossia sempre pelas salas. À noite sentava-se junto do fogão, suspirava e ficava calada…
Pobre senhora! A nostalgia do país, da parentela, das igrejas, fazia com que ela ficasse cada dia mais doente. Ela era uma verdadeira lisboeta, pequenina e trigueira, sem se queixar e sorrindo timidamente, odiava, desde a sua chegada a Inglaterra, aquela língua estranha, aquelas pessoas com outra religião. Ela, só à noite, indo refugiar-se no sótão com as criadas portuguesas, podia rezar o terço.
Odiando tudo o que era inglês, não consentira que seu filho, o Pedrinho, fosse estudar para o colégio de Richmond. Afonso, para a tranquilizar, dizia-lhe que o colégio era católico, mas a pobre senhora não acreditou e mandou vir de Lisboa o padre Vasques.
Às vezes, Afonso interrompia as lições do padre e agarrava na mão do Pedrinho para o levar, para correr com ele junto ao rio Tamisa. Mas a mamã vinha logo a correr, cheia de terror, para embrulhar o menino numa grande manta. Pedro, quando estava na rua, como estava acostumado ao colo das criadas e aos mimos da mamã, tinha medo do vento e das árvores. O pai ficava pensativo e triste por ver a fraqueza do filho…


1. Afonso da Maia e a sua mulher, Maria Eduarda Runa, estão agora a viver em Inglaterra.
1.1. Que fazia Afonso da Maia?
1.2. Como passava os seus dias?
1.3. A personagem feminina gozava de boa saúde? Justifique.
1.4. A mulher de Afonso da Maia gostava da língua inglesa?
1.5. Além da língua, há mais alguma coisa de que a pobre senhora não goste naquele país estranho?
2. O casal tinha um filho pequeno, o Pedrinho.
2.1. Onde estudava o Pedrinho?
2.2. Às vezes, Afonso da Maia tomava uma atitude em relação ao filho. Que fazia nessas ocasiões?
2.3. Pedrinho gostava de ir passear com o pai?
2.4. Como ficava Afonso da Maia ao ver as reacções do filho?

II

1. Em cada uma das séries dadas, indique o intruso:

1.1. Interessar-se, refugiar-se, ocupar-se, preocupar-se, importar-se
1.2. Pensativa, concentrada, meditativa, absorta, distraída
1.3. Nostalgia, caridade, saudade, tristeza, melancolia
1.4. Estranha, igual, esquisita, desconhecida, exótica

2. Preencha os espaços com as formas convenientes dos verbos:

2.1. Afonso da Maia __________ (estudar) literatura inglesa.
2.2. A pobre senhora, à noite __________ (sentar-se) junto do fogão e __________ (passar) a noite a suspirar.
2.3. Afonso da Maia __________ (pegar) na mão do filho e __________-o (levar) a passear pelas margens do Tamisa.
2.4. O menino __________ (ir) todo embrulhado na grande manta da mãe.
3. Coloque a preposição adequada:
3.1. O pai interrompia as lições __________ padre e segurava a mão __________ menino __________ o levar __________ a rua.
3.2. O menino era muito medroso, tinha medo __________ vento, e __________ barulhos __________ rua.

4. Preste atenção às frases:

Pedro estava na rua.
Pedro tinha medo do vento e das árvores.

4.1. Transforme as duas frases simples numa frase complexa, estabelecendo entre elas uma relação de tempo.


quinta-feira, 7 de maio de 2009

AFONSO DA MAIA


Afonso era um pouco baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes: e com a sua face larga de nariz aquilino, a pele corada, quase vermelha, o cabelo branco todo cortado à escovinha, e a barba de neve aguda e longa – lembrava, como dizia Carlos, um herói dos tempos antigos.
Afonso amava os livros, a comodidade da sua poltrona, o seu jogo de cartas ao canto do fogão.
Vilaça vinha encontrá-lo muitas vezes ao canto da chaminé, com um livro na mão e o seu gato aos pés. Este pesado e enorme angorá, branco com malhas louras, era agora (desde a morte de «Tobias», o soberbo cão são-bernardo) o fiel companheiro de Afonso. Tinha nascido em Santa Olávia, e recebera o nome de «Bonifácio», depois, ao chegar à idade do amor e da caça, fora-lhe dado o apelido de «D. Bonifácio de Calatrava». Agora, dorminhoco e obeso, entrara definitivamente no descanso próprio das grandes figuras eclesiásticas, e era chamado por «Reverendo Bonifácio»…

1. Classificar, quanto à presença, o narrador do texto «Afonso da Maia».
2. Fazer o retrato físico de Afonso da Maia.
3. Indicar os passatempos preferidos desta personagem.
4. Dizer quem é o fiel companheiro de Afonso.
5. Elaborar a descrição desse fiel companheiro.
6. Apontar os nomes que, ao longo da vida, o gato angorá teve.

· Num texto bem estruturado, com um máximo de vinte linhas, escrever sobre o seu passatempo preferido.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

AFONSO DA MAIA VEM VIVER NO RAMALHETE NO OUTONO DE 1875


A casa, depois de arranjada, ficou vazia, enquanto Carlos, já formado, fazia uma longa viagem pela Europa; - e foi só nas vésperas da sua chegada nesse lindo Outono de 1875, que Afonso se resolveu a deixar Santa Olávia e vir instalar-se no Ramalhete. Havia vinte e cinco anos que não via Lisboa; e, passados poucos dias, confessou ao Vilaça que estava com saudades da calma, tranquilidade e sossego de Santa Olávia. Mas, que remédio! Não queria viver separado do neto; e Carlos agora tinha ideias sérias de começar a trabalhar em Lisboa. De resto, não desgostava do Ramalhete, agradava-lhe também muito a vizinhança e gostava até do seu quintalito. Não era como o jardim de Santa Olávia, mas tinha o seu ar simpático, com os girassóis perfilados ao pé dos degraus do terraço, com o cipreste e o cedro juntos como dois amigos tristes e com a estátua do parque, a clara e bela estátua de Vénus.





1. Acabaram as obras no Ramalhete, mas a casa continua sem moradores. Qual a razão?
2. Quando é que o avô de Carlos da Maia decidiu vir instalar-se no Ramalhete?
3. Quantos anos viveu Afonso da Maia em Santa Olávia?
4. Que confissão fez Afonso da Maia ao procurador?
5. Explique a razão pela qual Afonso da Maia ficou a viver no Ramalhete.
6. Faça a descrição do jardim da casa do Ramalhete.
7. Como classifica o narrador presente neste texto?
1. Em cada uma das séries dadas, indique o intruso:
1.1. arranjada, reparada, laranjada, consertada, restaurada
1.2. chegada, aparecimento, vinda, jantarada, regresso
1.3. confessou, revelou, declarou, passeou, anunciou
1.4. triste, chorosos, presunçoso, desgostoso, magoado
1.5. bela, curiosa, formosa, graciosa, harmoniosa

2. Escreva o antónimo de:

2.1. vazia
2.2. chegada
2.3. começar
2.4. simpático
2.5. clara

3. Preencha os espaços com a preposição correcta:

3.1. Afonso da Maia queria viver _________ o neto _________ Lisboa _________casa _________ Ramalhete.
3.2. Carlos da Maia saiu _________ Coimbra, passou _________ Paris e _________ Londres e demorou-se bastante tempo _________ Oslo.

4. Preste atenção às frases:

O jardim do Ramalhete não era como o de Santa Olávia.
O jardim tinha um ar simpático.

4.1. Transforme as duas frases simples numa frase complexa, estabelecendo entre elas uma relação de oposição.

5. Encontre a personificação que se encontra no texto «Afonso da Maia vem viver no Ramalhete no Outono de 1875».

6. Escreva uma frase em que esteja presente uma personificação.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

QUEM ERAM OS MAIAS?



Os Maias eram uma antiga família da Beira, sempre pouco numerosa, sem parentela – e agora reduzida a dois varões, o senhor da casa, Afonso da Maia, um velho já e o seu neto Carlos que estudava medicina em Coimbra. Quando Afonso se retirara definitivamente para Santa Olávia, o rendimento da casa excedia já cinquenta mil cruzados: mas desde então tinham-se acumulado as economias de vinte anos de aldeia. Tinha também havido a herança de um parente, Sebastião da Maia, que desde 1830 vivia, sem mais família, em Nápoles, ocupando-se de numismática. Vilaça, o procurador da família Maia podia sorrir com satisfação quando dizia que a família ainda tinha algum dinheirinho para a manteiga de uma fatia de pão.

Vilaça tinha aconselhado a venda da Tojeira, mas nunca tinha concordado com Afonso quanto à venda da casa de Benfica.

Agora, os Maias, com o Ramalhete inabitável, não possuíam uma casa em Lisboa; e se Afonso naquela idade amava o sossego de Santa Olávia, o seu neto, rapaz de gosto e de luxo que gostava de passar as férias em Paris e em Londres, não queria, depois de formado, ir viver nos penhascos do Douro.

E com efeito, meses antes de Carlos deixar Coimbra, Afonso espantou Vilaça quando lhe anunciou que decidira vir habitar o Ramalhete. O procurador fez um extenso relatório a enumerar os inconvenientes do casarão: o maior problema era o da casa necessitar de muitas obras.
1. Quem são os Maias?
2. Indique o nome dos dois varões da família.
3. Que relação de parentesco existe entre os dois homens?
4. Como classifica a situação financeira da família Maia?
5. Quem lhes deixou uma herança?
6. Qual a profissão de Vilaça?
7. Afonso da Maia seguia sempre os conselhos que o procurador lhe dava? Justifique a resposta.
8. O avô e o neto têm os mesmos gostos? Ilustre a resposta com o texto.
9. Para onde vão os Maias viver quando Carlos acabar o curso de medicina?
10. Afonso da Maia informou que vinha viver para o Ramalhete. Qual foi a reacção de Vilaça?
11. A casa já estava pronta para ser habitada?
12. Como classifica o narrador deste texto?



II

1. Em cada uma das séries dadas, indique o intruso:

1.1. Reduzida, abreviada, atenuada, resumida, relatada
1.2. Misturara, afastara, retirara, apartara, desligara
1.3. Excedia, comia, sobrava, passava, sobejava
1.4. Acumulado, passado, reunido, juntado, armazenado
1.5. Satisfação, contentamento, inconveniente, gosto, agrado

2. Escreva o antónimo de:

2.1. numerosa
2.2. sem
2.3. reduzida
2.4. neto
2.5. definitivamente
2.6. mais
2.7. algum
2.8. venda
2.9. inabitável
2.10. extenso

3. Coloque a preposição adequada:

3.1. Os Maias eram naturais ______ Beira, possuíam um bom rendimento e receberam a herança ______ um parente que vivia ______ Itália.
3.2. Afonso, já velho, ______ o sossego ______ Santa Olávia, mas Carlos gostava mais ______ luxo ______ vida ______ Lisboa.
4. Releia o texto “Quem eram os Maias” e transcreva os aumentativos encontrados.
5. Elabore duas frases usando aumentativos diferentes.

III

Afonso da Maia gosta mais da calma, do sossego e da tranquilidade de Santa Olávia.
Carlos da Maia prefere a vida agitada das grandes capitais, por isso, nas férias vai para Paris, Londres,… e, quando acabar o curso, quer ir viver para Lisboa.

Em não mais de vinte linhas, indique se gosta mais da vida no campo ou na cidade, explicando as razões da sua preferência.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

OS MAIAS



Obra-prima de Eça de Queirós, publicada em 1888, e uma das mais importantes de toda a literatura narrativa portuguesa. É um romance realista e naturalista onde não faltam o fatalismo, a análise social, as peripécias e a catástrofe próprias do enredo passional.

A obra ocupa-se da história de uma família – Maia – ao longo de três gerações, centrando-se depois na última geração e dando relevo aos amores de Carlos da Maia e Maria Eduarda. Mas a história é também um pretexto para o autor fazer uma crítica à situação decadente do país (na política e na cultura) e à alta burguesia lisboeta oitocentista, por onde perpassa um humor (ora fino, ora satírico) que configura a derrota e o desengano de todas as personagens.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Eça de Queirós - Biobibliografia



José Maria Eça de Queirós nasceu em 1845, na Póvoa de Varzim e morreu em 1900, em Paris. Estudou Direito em Coimbra, onde conheceu outro escritor, Antero de Quental, de quem se tornou muito amigo.

Em 1867 funda o jornal O Distrito de Évora.

Com outro escritor, Ramalho Ortigão, publica no Diário de Notícias, em folhetins, O Mistério da Estrada de Sintra (1870). No ano seguinte começa a publicar As Farpas. Concorre à diplomacia, começando por ser cônsul em Havana, depois em Newcastle e a partir de 1888 em Paris. Em Inglaterra, Eça de Queirós escreveu grande parte da sua obra, através da qual se revela um dos mais importantes escritores da língua portuguesa.

Eis as suas obras mais importantes: O Crime do Padre Amaro (1878), A Relíquia (1887), Os Maias (1888 – considerada a sua obra-prima), A Ilustre Casa de Ramires (1897) e A Cidade e as Serras (1899). Parte da restante obra foi publicada já depois da sua morte.

quinta-feira, 12 de março de 2009

O vizinho misterioso



Foi no ano passado e era Outono. Não o Outono verdadeiro, sem verde nas copas, com o chão carregado de pequenas manchas douradas das folhas pelas árvores. Não era o Outono frio a soprar e a chuva a cair. Era só o início da estação, ainda havia sol, um pouco das lembranças da praia, os preparativos para um novo ano lectivo e um tom bronzeado na pele onde sobrava um bocadinho de sabor a sal da água do mar.
Eu vinha para casa, sozinho, carregado com dossiers novos, canetas novas e muitas ideias novas. Ao entrar na minha rua ouvi miar. Dei facilmente com o gato: tinha os olhos mais bonitos que jamais vi num gato. Eram azuis e olhavam-me a pedir. Pedia alguma coisa aquele gato. Qualquer coisa: uma migalha que fosse, de preferência barrada de afecto. Notava-se bem que o animal já não comia há muito tempo. Tinha as costelas a verem-se, parecia a grade de ferro que há à entrada da minha escola, toda às risquinhas por ali fora...
Sem pêlo, era uma chaga viva. Fora muito mal-tratado e tinha uma ferida enorme na cabeça...
Hesitei por momentos e pedi-lhe que me esperasse.
Coloquei os meus embrulhos à porta e voltei para o buscar.
Certamente fora abandonado por alguém que partira para férias e, muito simples e cruelmente, não se estivera para ralar com ele.
Agarrei-o com cuidado, não o fosse magoar ou ele magoar-me a mim, assustado e a recordar-se de experiências recentes. Ele deixou-se apanhar com facilidade, talvez sem capacidade de revolta, talvez porque, finalmente, confiasse em alguém.
Levei-o para casa.
A princípio, julguei que os meus pais me iam atirar pela janela fora mais o gato. Nada disso se passou. Os três, os meus pais e eu, durante semanas seguidas, tratámo-lo com todo o cuidado.
Aos olhos azuis, pouco a pouco, foi-se juntando uma pelagem amarelada que escureceu com o tempo. Na Primavera tínhamos um gato novo.
O Anti-Ratos - é esse o seu nome - é hoje um siamês gordo e preguiçoso, feliz.

Alexandre Honrado, O Vizinho Misterioso




 
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