segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

36ª aula - 11 de Fevereiro de 2008



HISTÓRIA COM OS OLHOS FECHADOS

Uma vez, depois do jantar, estava a ler no jornal uma notícia aborrecidíssima, cheia de números e de palavras, quando reparei que acontecia qualquer coisa na parede da sala, que é um sítio onde nunca acontece nada – pelo menos na parece da minha sala nunca acontece nada. A minha sombra na parede pousara a sombra do jornal em cima da sombra da mesa e estava recostada para trás, na sombra da cadeira, a espreguiçar-se, com um ar enfadadíssimo (ou com uma sombra enfadadíssima, já não me lembro bem)!

Primeiro pensei que a minha sombra fosse a sombra de outra pessoa, mas era já muito tarde e tinham-se ido todos deitar, a Sara, a Ana, todos. Até o Freak dormia em silêncio no sofá, com o focinho entre as patas, e a sombra dele nas costas do sofá, com a sombra do focinho entre as sombras das patas, também completamente em silêncio. Depois pensei: se calhar fui eu que pousei o jornal na mesa e me encostei para trás a espreguiçar-me, sem ter dado por isso. Mas eu não estava a espreguiçar-me nem tinha pousado o jornal em parte nenhuma (fiz barulho com o jornal, para ter a certeza de que estava com ele na mão). Imaginei que talvez eu estivesse a ler um conto, ou um poema, acerca de uma sombra movendo-se sozinha na parede e que aquilo era um disparate porque eu estava a ler uma notícia aborrecidíssima no jornal, cheia de números e de palavras compridas.

Então resolvi fazer uma experiência. Tenho a mania de fazer experiências, embora nunca dêem resultado. Levantei-me (e a minha sombra levantou-se também, muito contrariada, parece-me até que resmungou), e fui à entrada da sala apagar a luz. A sombra desapareceu imediatamente da parede. Aliás desapareceu tudo, até a parede, porque quando se apaga a luz, em vez de desaparecer só a luz, desaparecem também as sombras e tudo, embora nós não tenhamos apagado nem as sombras nem o resto, e só a luz…

Depois voltei a acender a luz para ver o que acontecia. Estava lá tudo outra vez, a parede, a sombra da mesa e a do jornal. Mas a minha sombra tinha desaparecido! Olhei para mim e não havia dúvida que eu também lá estava, portanto a minha sombra – achava eu – também lá devia estar! Mas tinha desaparecido!

Manuel António Pina, A Antologia Diferente /De que são feitos os sonhos

1. Referir o acontecimento estranho que deixou o narrador intrigado, logo no início do conto.

2. Para explicar o que se estava a passar, o narrador pensou em três hipóteses.

.Na lista seguinte, assinalar as verdadeiras:

2.1.1. É a sombra de outra pessoa.

2.1.2. Devo estar louco!

2.1.3. Tenho visto muitos filmes de terror!

2.1.4. Pousei o jornal na mesa e espreguicei-me sem dar conta.

2.1.5. Estou a ler um conto ou poema sobre uma sombra que se move sozinha na parede.

2.1.6. Preciso de comprar óculos.

3. Indicar as três razões que ele encontrou para recusar as hipóteses que tinha posto.

4. O narrador resolveu então fazer uma experiência. Qual?

5. Essa experiência teve um resultado de que ela não estava à espera. Dizer qual.

II

  1. Na sequência dada, indicar o intruso:

1.1. jantar, cear, almoçar, jardinar, merendar;

1.2. reparei, vi, notei, observei, caminhei;

1.3. pousar, assentar, tirar, pôr, descansar;

1.4. lembro, recordo, durmo, evoco, relembro

  1. Procurar no texto:

2.1. Três adjectivos no grau normal;

2.2. Um determinante possessivo;

2.3. Dois verbos no pretérito perfeito do indicativo;

2.4. Quatro nomes comuns;

2.5. Dois nomes próprios;

2.6. Uma conjunção coordenativa adversativa.

III

Em cerca de 75 palavras, dar continuidade ao conto de Manuel António Pina.




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http://www.dgidc.min-edu.pt/inovbasic/biblioteca/jornais/jornais-ler-fazer.doc