quinta-feira, 2 de outubro de 2008

6ª aula - 2 de Outubro de 2008


UM JOGO

Pronto, ganhámos, foi um belo jogo, trabalhado, suado, sofrido até mesmo ao último segundo, merecemos a alegria. Mas, caramba!, foi um jogo, não foi o resgate da pátria das garras do inimigo!

Que loucura é esta, que desvario é este que parece ter tomado conta de toda a gente? Que patriotismo é este que se sustenta das chuteiras de vinte e dois jogadores de futebol? Havia necessidade de se recorrer à linguagem tontamente bélica que por aí anda em cartazes? Aljubarrota?! (foi uma batalha, morreu gente!) A Padeira? (Matou à pazada uma data de fugitivos indefesos!)

E – cerejinha em cima do bolo – aquela escritora que foi à televisão aconselhar calminha aos ingleses, recordando-lhes que, enfim, quando se confrontaram connosco na Invencível Armada, «as coisas não lhes correram nada bem»…

Quer dizer: se a euforia futebolística ainda não chega para mudar o rumo à História, é bom lembrar que quem não se deu mesmo nada, nada bem nesse confronto fomos nós, nunca os ingleses que de lá saíram a cantar de galo…

Talvez não fosse mau, antes de mandarmos bitates, fazer uma revisão da História, já que a queremos usar como arma de arremesso.

Lembrar-me eu do que sofreu o pobre actor João Grosso aqui há uns anos por ter cometido a ousadia de, num espectáculo, utilizar o hino português noutro ritmo e noutra batida – e nos símbolos da Pátria ninguém tocava! Quando hoje vejo outro símbolo da Pátria andar por aí amarrado ao rabo, à cabeça, ao peito, aos braços de toda a gente, confesso que me sinto um pouco perplexa…

Mas enfim, quando daqui a dias a maluqueira passar, e todos regressarem à dura realidade que os espera, tenho fé que alguma coisa de positivo resulte de tudo isto: alguma auto-estima, e que, de uma vez por todas, tenham aprendido as palavras do Hino Nacional.

Alice Vieira, Pezinhos de Coentrada




Sem comentários:

 
http://www.dgidc.min-edu.pt/inovbasic/biblioteca/jornais/jornais-ler-fazer.doc